Um avanço importante que o setor produtivo de ovos conseguiu, ao longo dos últimos anos, foi a derrubada de velhos tabus que depreciavam a imagem do ovo. Ao mesmo tempo, foi possível ressaltar as inúmeras qualidades que este alimento possui e aumentar o consumo, que chegou a 230 ovos per capita/ano.

Aqui devemos reconhecer o esforço das associações estaduais de avicultores, de programas interessantes como o OvosRS, das ações fundamentais do instituto Ovos Brasil e do grande esforço das empresas de insumos, dos profissionais e dos avicultores, de todos.

Os avanços da ciência também foram fundamentais neste processo. Quem conta um pouco deste histórico científico e dos principais pontos de evolução técnica da avicultura de postura é João Dionísio Henn, Analista em transferência de tecnologia na Embrapa Suínos e Aves e especialista em Gestão do Agronegócio e Doutor em Zootecnia.

Henn conta que, toda a cadeia ganhou e foi possível aumentar a produção.  “Na produção de ovos, o conjunto de atores da cadeia de insumos, a montante da porteira, trouxe muitas inovações: na genética, com aves mais produtivas, eficientes e longevas; a nutrição com novidades que reduziram custo de produção, melhorou qualidade do ovo e reduziu o impacto ambiental; sanidade, vacinas, embalagens com muitas novidades e soluções interessantes. Equipamentos e automação foi um verdadeiro salto, com muitos processos sendo automatizados, como sistemas de alimentação, retirada de dejetos, transporte de ovos, ambiência e sistemas de tomada e de controle de dados e de alertas. Foi gerado muito conhecimento pela pesquisa, tanto nas empresas como nas instituições de pesquisa, que resultou em melhorias de manejo e ganhos de produtividade”, explicou o pesquisador. “Diversos eventos técnicos se consolidaram e são fundamentais para o aprimoramento técnico dos profissionais. As normas e regulamentos também foram aperfeiçoados, para reforçar as ações de biosseguridade e de atenção às expectativas do consumidor de ovos, mais esclarecido e exigente com relação à qualidade e sanidade dos alimentos que consome. Acredito que o setor deu um enorme salto nas ultimas décadas e seguirá este caminho, com investimentos em novos modelos de produção, industrialização de ovos e, quem sabe, fortalecer as exportações de ovos e ovoprodutos”, pontuou.

Para João Henn, os pontos nos quais as pesquisas mais avançam no setor de postura são:  a) Automação em várias frentes, nas granjas e nas unidades de beneficiamento de ovos; b) Plataformas interativas e inteligentes de captação de informações na granja, por meio de sensores, alertas e alarmes acusando alguma falha de processo em tempo real e via remota, relatórios e séries de dados; c) Nutrição também avançou muito, agregando qualidade de casca e albumen e reduzindo custo.

Ele conta que ainda existem técnicas produtivas que precisam mais atenção. “Considero que o manejo do bico é um tema que ainda precisa ser bastante trabalhado. Tivemos avanços tecnológicos importantes, com este manejo sendo feito a laser no incubatório, de forma leve (só a ponta do bico), em alternativo aos métodos mais tradicionais. Como alguns sistemas de alojamento sem gaiolas não permitem esta prática, e, independente do sistema, é uma questão fundamental do BEA, necessitamos trabalhar muito para produzir sem fazer este manejo, com uma série de ajustes no sistema de produção, ou quando necessário, fazer da melhor forma possível”, disse.

Outro ponto fundamental, afirma João Henn, é com relação aos machos e também com relação ao descarte do lote, onde temos poucos abatedouros com inspeção para abater estes animais, necessitando viagens longas, por vezes, e com pequena valoração destas galinhas. “Em sistemas automatizados de grande escala, um desafio é a destinação adequada e a valoração dos dejetos frescos produzidos”, disse.  

Diferentes avanços em diversos tipos de produção - free range, caipira e orgânicos 

O mercado está em crescimento e existe espaço para todos os tipos de produtos, com tendência de crescimento dos sistemas de produção não tradicionais. No Brasil, por enquanto, não temos dados oficiais sobre o alojamento e a produção de ovos em cada um dos sistemas, mas acredita-se que a produção convencional em gaiola represente valor entre 90 a 95%. Os sistemas de produção “livre de gaiola” estão em crescimento do país, com bastante investimento de novos produtores e diversificação em produtores tradicionais.

João Henn explica que os ovos caipiras e os orgânicos ganharam mais espaço neste período de pandemia e de isolamento social, com aproximação do produtor com o consumidor e a comercialização via cestas de produtos ou entregas via serviço de delivery. “Para os sistemas “livre de gaiolas”, restam muitas dúvidas, tanto para os avicultores quanto para os consumidores e deveremos ter avanços importantes para melhor caracterização deste sistema, normatização, rotulagem, certificação e esclarecimentos aos consumidores. Além destes sistemas de produção e tipos de produtos elencados, temos também os ovos livres de antibióticos e a produção de ovos caipiras com genética caipira. Acredito que cada um dos sistemas apresenta vantagens e desvantagens e não há um modelo que possa ser destacado como o melhor para todos os produtores de todo país. As diferenças regionais, preferências e capacidades de compra do consumidor influenciam no tipo de ovo a ser produzido. Todos os sistemas, porém, deverão incorporar os novos conceitos e exigências os consumidores, relacionados com o bem estar animal, humano e questões éticas da produção de alimentos”, afirmou o pesquisador.

Pesquisas em biossegurança no sistema de produção avícola de postura

Há várias demandas mapeadas e esforços sendo feitos para obtenção de novos insumos, práticas e processos inovadores, para proporcionar ganhos de efetividade, agilidade, automação e praticidade. De acordo com João Henn, o controle biológico de pragas, sem carência, é um exemplo. “Por outro lado, a ciência já avançou muito nesta área e temos muito conhecimento e tecnologia já desenvolvidos, no Brasil e no exterior, e também muita coisa é diretamente adaptada da avicultura de corte e das matrizes de corte”, disse. “Um desafio é colocar isso tudo em prática, no dia a dia da produção de ovos, para a devida proteção dos plantéis e das pessoas, qualidade da produção e do produto e adequação à legislação e programas oficiais vigentes”, explicou.  

Neste aspecto, a Embrapa atua em apoio ao MAPA, defesa sanitária animal oficial dos estados e de municípios, nas suas ações e programas. “Além disso, a Embrapa Suínos e Aves bastante em capacitações e treinamentos com foco nos atores de cadeia produtiva, em parceria com órgãos oficiais, empresas, associações, equipes técnicas e produtores, bem como de estudantes das ciências agrárias. As ações são de elaboração de materiais técnicos, consultorias, avaliações de protocolos,  cursos, palestras e atendimento das demandas que chegam, diariamente, para as nossas equipes de pesquisa e de transferência de tecnologia”, afirmou.

João Henn: “A Embrapa possui uma atuação colaborativa com instituições de todo país, em diversas iniciativas para o fortalecimento e o progresso do setor. São ações de colaboração em pesquisa, de apoio para implementação de políticas públicas, de protocolos de qualidade, questões estruturais, eventos e de atendimento de demandas emergenciais. Vários integrantes da equipe participam de comitês, nacionais e internacionais, que são responsáveis por decisões estratégicas para o setor. Os projetos de pesquisa, na Embrapa Suínos e Aves, tem seu foco principal em metodologias de diagnóstico rápido e diferenciação de sorotipos de salmonela; tecnologias para maior vida de prateleira do ovo; qualidade da casca dos ovos; nutrição mineral de poedeiras, bem estar animal aplicado às poedeiras e boas práticas de produção e avaliação e aprimoramento de poedeira colonial Embrapa 051, destinada para a produção em pequena escala e de agregação de valor. Para a agricultura familiar, onde a avicultura de postura de pequena escala está muito presente, a Embrapa atua em vários projetos de pesquisa e transferência de tecnologia para a adoção de tecnologias, práticas e processos e apoio na estruturação e viabilização da produção, beneficiamento e comercialização em pequenas cooperativas, grupos organizados e de apoio à assistência técnica pública e privada.

A Embrapa busca sempre atuar em parceria com atores da cadeia produtiva, para agregar competências técnicas, infraestrutura e recursos financeiros para a geração de inovações visando atender as demandas do parceiro e do mercado e que possam ser rapidamente adotadas. Inovação aberta e cooperação técnica com o setor fará com que a pesquisa terá o foco e os recursos necessários para a solução dos problemas reais do setor na atualidade, com benefícios para todos. Neste sentido, a Embrapa tem contribuído com o fortalecimento dos ecossistemas de inovação e promovido ações de aproximação do setor produtivo com a pesquisa, a exemplo do InovaAvi, que está com inscrições abertas aos interessados, no site http://inovaavi.com.br/”